sábado, 19 de fevereiro de 2011

Camelos Também Choram - Affonso Romano de Sant´Anna


CAMELOS TAMBÉM CHORAM    

Affonso Romano de Sant’Anna

Eu tinha lido que, lá na Índia, elefantes olhando o crepúsculo, às vezes, choram. 
Mas agora está aí esse filme “Camelos também choram”. 
A gente sabe que porcos e cabritos quando estão sendo mortos soltam gemidos e berros dilacerantes. 
Mas quem mata galinha no interior nunca relatou ter visto lágrimas nos olhos delas. 
Contudo,  esse filme feito sobre uma comunidade de pastores de ovelhas e camelos, lá na Mongólia, mostra que os camelos choram, mas choram não diante da morte, mas em certa circunstância que faria chorar qualquer ser humano. E na plateia, eu vi, os não camelos também choravam.

Para nós, tão afastados da natureza, olhando a dureza do asfalto e a indiferença dos muros e vitrinas; para nós que perdemos o diálogo com plantas e animais, e, por consequência, conosco mesmos, testemunhar com aquela bela família de mongóis o nascimento de um filhote de camelo e sua relação com a mãe é uma forma de reencontrar a nossa própria e destroçada humanidade.

É isto: eles vivem num deserto. Terra árida, pedregosa.  Eles, dentro daquelas casas redondas de lona e madeira, que podem ser montadas e desmontadas.  Lá fora um vento permanente ou o assombro do silêncio e da escuridão.  
E as ovelhas e carneiros ali em torno, pontuando a paisagem e sendo a fonte de vida dos humanos.

Sucede, então, que a rotina é quebrada com o parto difícil de um camelinho.  Por isto, a mãe camela o rejeita. 
O filho ali, branquinho, mal se sustentando sobre as pernas, querendo mamar e ela fugindo, dando patadas e indo acariciar outro filhote, enquanto o rejeitado geme e segue inutilmente a mãe na seca paisagem.

A família mongol e vizinhos tentam forçar a mãe camela a alimentar o filho. Em vão. Só há uma solução, diz alguém da família, mandar chamar o músico. Ao ouvir isto estremeci como se me preparasse para testemunhar um milagre. 
E o milagre começou musicalmente a acontecer.
Dois meninos montam agilmente seus camelos e vão a uma vila próxima chamar o músico. É uma vila pobre, mas já com coisas da modernidade, motos, televisão, e, na escola de música, dentro daquele deserto, jovens tocam instrumentos e dançam, como se a arte brotasse lindamente das pedras.

O professor de música, como se fosse um médico de aldeia chamado para uma emergência, viaja com seu instrumento de arco e cordas para tentar resolver a questão da rejeição materna. Chega. E ali no descampado, primeiro coloca o instrumento com uma bela fita azul sobre o dorso da mãe camela. A família mongol assiste à cena. 
Um vento suave começa a tanger as cordas do instrumento.  A natureza por si mesma harpeja sua harmônica sabedoria. 

A camela percebe. 
Todos os camelos percebem uma música reordenando suavemente os sentidos. Erguem a cabeça, aguçam os ouvidos, e esperam.

A seguir, o músico retoma seu instrumento e começa a tocá-lo, enquanto a dona da camela afaga o animal e canta. 
E enquanto cordas e voz soam, a mãe camela começa a acolher o filhote, empurrando-o docemente para suas tetas. 
E o filhote antes rejeitado e infeliz, vem e mama, mama, mama desesperadamente feliz.
E enquanto ele mama e a música continua, a câmara mostra em primeiro plano que lágrimas desbordam umas após outras dos olhos da mãe camela, dando sinais de que a natureza se reencontrou a si mesma, a rejeição foi superada, o afeto reuniu num  todo amoroso os apartados elementos. 

Nós, humanos, na plateia, olhamos aquilo estarrecidos. Maravilhados. Os mongóis na cena constatam apenas mais um exercício de sua milenar sabedoria. E nós que perdemos o contato com o micro e o macrocosmos ficamos bestificados com nossa ignorância de coisas tão simples e essenciais.

Bem que os antigos falavam da terapêutica musical. Casos de instrumentos que abrandavam a fúria, curavam a surdez, a hipocondria e saravam até a mania de perseguição. Bem que o pensamento místico hindu dizia que a vida se consubstancia no universo com o primeiro som audível - um ré bemol - e que a palavra só surgiria mais tarde. Bem que os pitagóricos, na Grécia, sustentavam que o universo era uma partitura musical, que o intervalo musical entre a Terra e a Lua era de um tom  e que o cosmos era regido pela harmonia das esferas.

Os primitivos na Mongólia sabem disto. Os camelos também. Mas nós, os pós-modernos cultivamos a rejeição, a ruptura e o ruído. Haja professor de música para consertar isto.

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O filme é de 2003. Em 8 anos muita coisa muda em nossa vida. A maneira de sentir o mundo pode mudar completamente.



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Dardos

Bloguim nem bem engatinhou, já ganhou! 
Em breve sairá atirando o Selo Dardos, como cumpre.  
Só não faz isso hoje porque já é hora de nenem dormir. 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Amizade

Uma das minhas melhores amigas não foi minha companheira na infância, na faculdade nem no trabalho. Moramos perto uma da outra mas não somos vizinhas. Nos conhecemos por acaso, passeando cachorros. Foi amizade à primeira vista, se é que isso existe.

O ponto de convergência inicial foi o fato de sermos ambas cachorreiras. O segundo, de sermos cariocas, estarmos em Curitiba e tudo o que isso acarreta. Do primeiro papo em diante o assunto nunca mais acabou. Não falta nem falha nunca.

Eu falarei mais dela eventualmente porque numa rede de mulheres é preciso que se dê a conhecer mulheres excepcionais, sempre prontas a aprender, a dividir suas experiências e lições de vida. Hoje vou deixar aqui um link de um post em um dos blogs que ela conduz porque tem tudo a ver com o assunto desta rede.

Começa assim:

"Adoro trabalhar com retalhos de roupas de minha filha quando era pequena, uma época em que eu ainda ousava costurar para ela.

O tecido do centro foi usado numa fantasia de batata. Sim, de batata. Fiz um macacão caqui.  Perfeitamente inconformada com a semgraceza do figurino..."  Leia mais





quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Telinhas x Leitura - 2


Relacionei o post anterior ao pensamento de Joseph Chilton Pearce. Volto ao assunto em seguida para fazer justiça ao autor.

Para ter uma idéia da abordagem transdisciplinar feita por Joseph Chilton Pearce, indico esta entrevista como ponto de partida para uma reflexão mais consistente sobre o tema.

O autor é um dos nomes mais respeitados da atualidade no exterior. Pouco conhecido no Brasil.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Telinhas x leitura

Sempre foi dito que é preciso limitar o tempo das crianças frente à tv e fazê-las ler. Recomendação que serve  para adutos também.

Você sabe exatamente porque é mais enriquecedor ler um livro do que ver um filme?

 A resposta me foi dada pelo excelente pensador Joseph Chilton Pearce em seu livro O Fim da Evolução:  ao ler ativamos o cérebro desenvolvendo a nossa capacidade de formar imagens mentais. Frente a um filme aceitamos passivamente a imagem concentrando o interesse no enredo.

É por isso que costumamos dizer que "o livro é melhor do que o filme". A imagem mental dos personagens e ambientação de um livro é criação nossa. A imagem projetada na tela não tem a nossa assinatura.

Hoje em dia a variedade e quantidade de telas cresceu. São muitas, presentes nos lares, ao alcance da mão e cada vez ao alcance de um maior número de bolsos. Todas elas fascinantes - para adultos e crianças. Difícil evitá-las e controlar o tempo de uso.

A nossa visão sobre educação infantil também se ampliou. Além de oferecer leitura podemos criar várias atividades, puxar conversas e propor desenhos de forma a ajudarmos as crianças a desenvolverem a  capacidade de criar imagens mentais. Fica a dica.

Recomendo a leitura de Joseph Chilton Pearce - qualquer ou todas as suas inúmeras publicações.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A sexualidade da recém parida!




No século XXI este deveria ser um assunto ultra aberto e já livremente comentado, mas ainda é tabu.




Eu não acredito nem um pouquinho nas mulheres que dizem que voltaram a ter desejo sexual rapidamente depois do parto. Duvideódó, Superfêmeas!

Sei o que aconteceu comigo. Amamentei bastante tempo. O que pode uma mulher, impregnada de prolactina, sentir? Vontade de amamentar, queridas. Vontade de ninar neném. Vontade de ficar olhando para o neném. Cuidar do neném e depois, pelamordedeus... dormir.

Deixo o meu testemunho desabrido a partir de um comentário (na verdade uma proposta para que o assunto fosse discutido) de ... (3 pontinhos) em Potencial Gestante. Muito oportuno. Quando é que vamos crescer e gritar aos quatro ventos que mulher recém parida não tem tesão? Que esse período pode ser mais longo para umas que para outras? Que, em qualquer circustância, a mulher merece respeito?

Vou dizer mais: acho uma violência contra a mulher, contra o corpo e a alma femininos, a insensibilidade com que certos maridos conduzem a questão. Talvez por ignorância, talvez por egoísmo, talvez, talvez, talvez... bom, não achei nada de bom para dizer a respeito dessa atitude masculina.

O certo é que o maior interesse da recém parida é o bebê. O seu corpo está todo voltado para isso - todos os hormônios e por consequência todos os desejos estão a serviço da sobrevivência da cria. Somos mais bioquímica do que gostaríamos de acreditar... e alguns psiquiatras querem fazer crer.

Fica aberta a questão aqui no blog. Quando nada, mostrem para seus parceiros o testemunho de uma mulher (mente e corpo saudáveis) que tem a coragem de falar o que muitas, se não todas (?), as mulheres sentem. Espera-se dos homens compreensão. O que está em jogo é a construção e a manutenção da famíia. A falta de esclarecimento sobre o assunto pode levar o casamento a crise importante.

Vamos levar essa discussão adiante! Já passou da hora de esclarecer as mulheres e instruir os homens a fim de que (tantos e tão graves) conflitos se estabeleçam e repitam. Se você não quer aparecer então faça um e-mail novo, com nome diferente! Dá para entender o pudor. Afinal, este assunto pode, enquanto permanecer obscuro, ser elencado como um dos tabus na sociedade machista. Vamos trazer luz sobre essa questão?

Crédito da imagem: omaispositivo.com.br

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Alimentos

Donas e donos de casa estão enfrentando a alta do preço dos alimentos. Não é só a picanha, diz a Veja desta semana. Não, não é mesmo. Vegetarianos, macrobióticos e assemelhados estão em igual susto. 
No Egito a rede derrubou Mubarak e segue libertadora, em efeito dominó contra outras ditaduras. Aqui ela pode derrubar os preços. É só querermos. Eu quero.

Meu vizinho, um senhorzinho de 82 anos, sozinho e bem de vida, diz que não tem necessidade de economizar - Para quê? diz ele, que se sente responsavel por si só, que já tem  filhos e netos criados e independentes.

Ninguém é responsável por si só. Vivemos em sociedade. Somos co-responsaveis por toda a engrenagem, ainda que isto não esteja muito claro para todos. Vamos deixar o senhorzinho de lado com o  comportamento que para ele significa uma conquista - de padrão social e liberdade financeira. Bastam a ele as restrições de dieta que a prudência lhe impõe.

Nós, com outra idade e mentalidade, temos uma conduta mais consciente e solidária a seguir e promover.

De minha parte eu rejeito os produtos que tiveram seus preços insanamente elevados assim como os estabelecimentos que nitidamente abusam na hora de remarcar os preços - para cima. Em respeito ao meu próprio bolso e TAMBÉM e talvez PRINCIPALMENTE ao orçamento apertado daqueles de menor poder aquisitivo. Substituo-os com facilidade, sem drama. 

Curitiba tem uma das cestas básicas mais caras do país. Inexplicável. Só um estudo do comportamento social  pode esclarecer uma distorção como esta num estado cuja economia se fundamenta na agropecuária.

Vou deixar essas análises mais complicadas para os economistas e contar o que me ensinaram alguns produtores de hortaliças locais. O fornecedor vende ao mercado, vamos dizer, 3 caminhões de alface. O que vender (por um preço muitas vezes maior aquele pago ao produtor), vendeu. O que não tiver sido vendido é devolvido - podre - ao produtor, e não está sujeito a pagamento. Fora isso o produtor se obriga a dar, de graça, um caminhão inteiro do mesmo produto para que dele seja feita promoção. Lucro limpo para o supermercado. O produtor rural recebe uma miséria. O consumidor final paga um preço extorsivo. No meio do caminho uma cadeia altamente lucrativa.

Já uma diarista que trabalhou aqui em casa me contava que pegava, quando queria, legumes e verduras "na pedra". Que pedra é essa? Vizinha ao Ceasa uma "pedra" recebe os produtos não vendidos, na madrugada, aos diversos boxes. A partir das 6 da manhã o que não encontrou comprador é descartado na "pedra". Ela achava graça do brócolis, pequeno, que eu comprava (naquela época) no mercado a um preço nada bom, já passado por inúmeras câmaras de refrigeração e pequeníssima durabilidade na geladeira de casa. Comprou comeu, ou fica amarelo no segundo dia e melado no terceiro. 

Ela não gostava de brócolis, mas poderia pega-los imensos, muito mais frescos, na "pedra". Os vizinhos "da pedra" podiam escolher mas nem ligavam para as hortaliças. A maioria não se acostumou a consumi-las, erro comum no hábito alimentar brasileiro. Sem compradores o comércio não se estabelece. O produto vira lixo.

Tudo isso para dizer o já sabido - o produtor e o consumidor final estão sujeitos a uma carreada de ávidas mãos intermediárias. O jogo é agressivo. Se a ninguém interessa, vai fora. Já quem se interessa pelos produtos, lá no fim da linha, paga um preço distorcido, mais alto do que justo. 

Não me sinto inteligente pagando ao mercado um preço que, de tão abusivo, às vezes nem se encontra claramente exposto. Muito menos trazendo para casa um produto sambado, nem fresco da horta nem bem conservado  - isso para falar só de hortifruti. Sucumbo em último caso, muito último mesmo. 

Como fazer diferente? Não tenho terreno para plantar nem uma salsinha. No máximo crio meu hortelã em um vasinho - verdejante e cheiroso, muito precioso.

Sem vergonha de ser feliz, compro verduras e legumes em um sa-co-lão.  Encontro tudo o que há no mercado mais alguma coisa - maxixe, giló, carambola, jaboticaba, goiaba, pêssegos, ameixas, kiwis ...  Pimentão amarelo e vermelho? Quiabo? Vagem macarrão? Alface americana? R$ 1, 09 o quilo. 

A seção dos produtos mais caros também está presente no sacolão - uvas e peras a R$ 2, 30.  Brócolis e couve flor a  R$ 1,00 a unidade.

O preço não é a única vantagem - os produtos duram mais na minha geladeira porque não ficaram de um lado para o outro em câmaras nem sempre da temperatura adequada.  

Tenho para mim que os donos de sacolão pegam os produtos na "pedra"! rsrsr

Não são produtos orgânicos? Não sei... Como também não sei se no mercado muitos deles serão mesmo... Os orgânicos de verdade em geral são feios, mixurucas, com traço de insetos... Estes eu compro nas feiras de produtores orgânicos. O mais é no sacolão que compro mesmo. 

Eu me senti compelida a escrever este post porque comento sobre o sacolão com pessoas conhecidas mas vejo que não valorizam a informação. Não tenho certeza do que as move a comprar produtos menos bons por preço muito mais alto. Tenho a impressão que não compreenderia caso tentassem me explicar.

Já me disseram , sim, que os sacolões não são limpos. Alguns não são mesmo. Mas poucos mercados  podem se gabar de limpeza. Só para lembrar - num hipermercado da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, uma consumidora foi mordida de cobra ao remexer a gôndola dos repolhos uns anos atrás. Então, meu bem... 

Eu acho que cada um pode ajudar, no âmbito das suas atividades corriqueiras, a pressionar a inflação para baixo. Isso beneficia a sociedade como um todo. Donos e  donas de casa não sabem o poder que têm nas mãos. 

E só porque eu não resisto, vou comentar aqui o que vi uma mocinha comprar ontem no supermercado: meio alface. Meus olhos ficaram pregados na embalagem, no carrinho dela, atrás de mim na fila do caixa. Ela percebeu o meu olhar fixo. Como de D. Maroca já tenho uma boa porção, sorri e disse a ela amistosamente: o alface inteiro custa bem menos. Ela me respondeu que não conseguiria comer um alface inteiro, portanto, preferia não desperdiça-lo. Tá legal. Então, tá. Muito consciente... muito inteligente... Ecológica pra caramba!  Ela se sentiu uma intrépida ativista do GreenPeace frente a uma assassina de baleias.  

Fiz muita força para não rir nem subir no meu palanquinho portátil. Caí na rede... Aqui só lê quem quiser, quem não quiser não lê e eu fico mais tranquila, com a sensação de que alguma coisa, por mínima que seja, estou fazendo.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A Gravidez - 2

O susto foi inevitável. GRÁVIDA??? Eu??? Até a cegonha estremeceu e pensou que tivesse errado de endereço!

Um tobogã de idéias e emoções depois o meu lado prático se impôs: de quanto tempo?

Começava aí a saga de uma gestante totalmente ignorante do próprio corpo. Jurei a todos que eu não havia parado de menstruar. Isso acontece, não é? Na real eu devo ter me distraído um pouquinho. Nem interessa mais... Se eu anoto o dias em que estive menstruada? Não...

Difícil explicar o inexplicável. Estávamos diante de um fato e agora era providenciar o necessário: procurar um médico, fazer exames, calcular o estágio da gravidez.

Na primeira consulta com o médico, eu fui logo dizendo: quero  ter o bebê em parto cesáreo. O senhor aceita acompanhar a minha gravidez sob essa condição?

O médico deu um risinho. Gestante idosa. Alto risco. A cesáriana é o caminho aconselhavel, disse ele.

Os motivos dele para aceitar fazer parto cesáreo não me diziam respeito. Eu era saudável, não me sentia idosa, não via risco nenhum na minha gravidez. Ele não me perguntou porque eu incluíra o parto cesáreo nas condições contratuais. Eu teria respondido:

-- Porque a cesariana exclui problemas de cordão umbilical enrolado no pescoço do bebê.

Cada qual com a sua neura. Sempre achei um absurdo não fazerem um ultrasom no início do trabalho de parto. Isso pouparia muitas adversidades.

O médico pediu uma batelada de exames. Discursou sobre as vantagens do exame do líquido amniótico e frisou - risco próximo a zero.

Agradeci, me despedi e dei o médico como escolhido. Não morri de amores por ele, não o achei nem vagamente simpático e acolhedor mas sabia que a competência dele era reconhecida. Haviamos feito um acordo importante para mim. O primeiro passo estava dado.

Eu Mãe e o Mercado de Trabalho 1

Antes de ter filhos, de pensar em ter filhos, eu trabalhava lado a lado com uma colega que fazia da maternidade um objetivo prioritário, idéia que eu absolutamente não compartilhava, não alcançava nem compreendia.

Ela era radical ao dizer que toda mulher normal queria ser mãe. Eu me achava totalmente normal e não desejava ser mãe de gente. Isso é assunto para outro post, ainda que a minha página já dê uma pista das minhas idéias a respeito.

Eu tinha 6 linhas de telefone tocando na minha mesa de trabalho - duas externas + 4 ramais internos. Era de enlouquecer. Passava muito tempo ao telefone. Ela tinha lá outras linhas e ramais. Inevitavel ouvirmos uma à outra quando estavamos livres de algum fone ao ouvido. Escutei várias vezes:

- Ela já tomou suco de laranja? Quantas colheres?
- Fez cocô?
- Já acordou?
- Dormiu que horas?
- Colocou as meias? Tirou as meias? Trocou fralda? Deu banho? Secou o cabelo? Colocou a roupa que eu deixei separada? Colou o laço? Não deixe ela comer o laço!!! ..............................

Fala sério! Que dor dessa mãe! Não poder acompanhar sua filha no dia-a dia, ouvi-la balbuciar, amparar seus primeiros passos,  vesti-la, passear com ela, testemunhar seu desenvolvimento... Encontrar o bebê dormindo ao chegar em casa, exausta, no fim do dia de trabalho. Acordar no dia seguinte e se vestir com um olho enquanto olha pra filha com o outro, faz bilu bilu, recomendações à babá, instruções à empregada... talvez um tchau pro marido, fecha a porta e sai ...

Isso só servia para me certificar que não havia como conciliar a atribulação de uma executiva com o prazer de ser mãe. O que dava era pra ser mãe (privada do prazer da maternidade) e executiva (sem a concentração e liberdade necessárias) - com sérios prejuízos para as duas condições. Assim eu pensava.

Engravidei num período em que não estava trabalhando (post anterior) e, grávida, ninguém me contrataria.

O bebê nasceu.

Babei total.

Ficava horas só olhando a neném dormir, admirando cada dobrinha, dedinho, pestaninha... O bebê crescia e eu continuava babando. Recebi algumas propostas e pressões de todos os lados - amigos, familiares, marido. Não consegui me separar da minha filha.


Quando ela fez 1 ano cedi a uma forte pressão e assumi um trabalho (que teria sido espetacular se eu estivesse emocionalmente preparada) com tempo certo para acabar.

Procurei uma creche. Visitei várias, descartei as que simulavam o mundo da fantasia e optei pela que me pareceu ter mais jeito de casa. Deixava o bebê esperneante, chorante e gritante e ia trabalhar, com o coração partido e o peito vazando. Voltava correndo do trabalho, rumo ao resgate do meu bebê na creche, entregue a terceiros, e da minha condição de mãe com bebê no próprio colo.

Não desejo para ninguém o que passei naquele tempo. O bebê teve tudo - diarréia, corrimento, começou a alergia respiratória...  Batia ponto no consultório do pediatra toda semana.  Em 3 meses de trabalho o maior espaço entre uma consulta médica e outra foi de 16 dias. Felizmente o pediatra atendia a partir das 6 da manhã e eu tinha tempo de voltar, deixar o bebê medicado (+ prescrição / medicamentos / recomendações / pedidos de cuidados e atenção especiais) na creche e ir para o trabalho.

E o pai? Bom... o pai ia trabalhar (sem qualquer drama de consciência nem acréscimo em responsabilidades).

Decidi que não poderia continuar naquela rotina. O trabalho a termo acabou e eu voltei feliz para os cuidados  em tempo integral com o meu bebê.

Resolvi esperar um tempo até voltar a trabalhar...

... continua

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A Gravidez - 1

Eu achava que seria impossível combinar a maternidade com a minha vida profissional. Que os filhos seriam vítimas da irresponsabilidade e da falta de atenção/cuidado/companhia da mãe porque o dia só tem 24 horas e eu trabalhava 14 horas ou mais, fora o tempo de locomoção, ida e volta, etc.

Da noite para o dia a multinacional na qual eu trabalhava fechou as portas. Sem aviso prévio, deixou o país. Então tá. Aproveitei para descansar um pouco, completar a decoração do apartamento novo, voltar a pintar, dar mais atenção à minha própria mãe e visitar amigos dos quais tinha me distanciado por total falta de tempo. Me dei 6 meses de férias.

Logo comecei a me sentir esquisita. Um certo mal estar me acompanhava. Uma bolha de ar descia e subia, não chegava a ser um enjôo, mas era desagradavel. Não conseguia me alimentar que logo vinha a bolha. Percebi que estava perdendo a cintura. Queixei-me para várias pessoas - eu não estava bem.

Certa noite ofereci um jantarzinho a amigos que moravam no exterior e estavam passando férias no Brasil. Tinha perguntado à minha amiga o que ela gostaria de comer da culinária brasileira. Frutos do mar. Ao tentar prepará-los senti náusea. Levei os ingredientes à casa do sogro que sabia, melhor que eu, fazer o prato. Levei tudo pronto para casa.

Comprei sobremesas, não peguei flores porque me pareceram exalar um perfume intenso demais, não arrumei a mesa com o capricho costumeiro. Fiquei no básico, sem grandes fru frus. Uma preocupação sombreava o prazer de receber meus amigos - eu talvez estivesse doente. Comentei com meu marido que minhas roupas não estavam confortáveis, apertavam. Achei que estava perdendo a cintura.

Até hoje minha amiga ri da conversa reservada que tivemos à noite. Que doença que nada! Eu estava com-ple-ta-men-te grávida.

Eu tinha 38 anos, nenhum planejamento para ser mãe, não sabia nada de crianças... Fui, repentinamente, tomada de felicidade indescritível por saber que havia um bebêzinho a caminho. Isso só uma grávida sabe o que é!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

MMM - mais um filho no mundo

Este blog nasceu do desejo de compartilhar as experiências da maternidade, da expressão do feminino. 


Todos são muito bem vindos.


Aqui o silêncio é prata,a palavra é ouro e o diálogo é mais precioso que tudo.