domingo, 13 de fevereiro de 2011

Alimentos

Donas e donos de casa estão enfrentando a alta do preço dos alimentos. Não é só a picanha, diz a Veja desta semana. Não, não é mesmo. Vegetarianos, macrobióticos e assemelhados estão em igual susto. 
No Egito a rede derrubou Mubarak e segue libertadora, em efeito dominó contra outras ditaduras. Aqui ela pode derrubar os preços. É só querermos. Eu quero.

Meu vizinho, um senhorzinho de 82 anos, sozinho e bem de vida, diz que não tem necessidade de economizar - Para quê? diz ele, que se sente responsavel por si só, que já tem  filhos e netos criados e independentes.

Ninguém é responsável por si só. Vivemos em sociedade. Somos co-responsaveis por toda a engrenagem, ainda que isto não esteja muito claro para todos. Vamos deixar o senhorzinho de lado com o  comportamento que para ele significa uma conquista - de padrão social e liberdade financeira. Bastam a ele as restrições de dieta que a prudência lhe impõe.

Nós, com outra idade e mentalidade, temos uma conduta mais consciente e solidária a seguir e promover.

De minha parte eu rejeito os produtos que tiveram seus preços insanamente elevados assim como os estabelecimentos que nitidamente abusam na hora de remarcar os preços - para cima. Em respeito ao meu próprio bolso e TAMBÉM e talvez PRINCIPALMENTE ao orçamento apertado daqueles de menor poder aquisitivo. Substituo-os com facilidade, sem drama. 

Curitiba tem uma das cestas básicas mais caras do país. Inexplicável. Só um estudo do comportamento social  pode esclarecer uma distorção como esta num estado cuja economia se fundamenta na agropecuária.

Vou deixar essas análises mais complicadas para os economistas e contar o que me ensinaram alguns produtores de hortaliças locais. O fornecedor vende ao mercado, vamos dizer, 3 caminhões de alface. O que vender (por um preço muitas vezes maior aquele pago ao produtor), vendeu. O que não tiver sido vendido é devolvido - podre - ao produtor, e não está sujeito a pagamento. Fora isso o produtor se obriga a dar, de graça, um caminhão inteiro do mesmo produto para que dele seja feita promoção. Lucro limpo para o supermercado. O produtor rural recebe uma miséria. O consumidor final paga um preço extorsivo. No meio do caminho uma cadeia altamente lucrativa.

Já uma diarista que trabalhou aqui em casa me contava que pegava, quando queria, legumes e verduras "na pedra". Que pedra é essa? Vizinha ao Ceasa uma "pedra" recebe os produtos não vendidos, na madrugada, aos diversos boxes. A partir das 6 da manhã o que não encontrou comprador é descartado na "pedra". Ela achava graça do brócolis, pequeno, que eu comprava (naquela época) no mercado a um preço nada bom, já passado por inúmeras câmaras de refrigeração e pequeníssima durabilidade na geladeira de casa. Comprou comeu, ou fica amarelo no segundo dia e melado no terceiro. 

Ela não gostava de brócolis, mas poderia pega-los imensos, muito mais frescos, na "pedra". Os vizinhos "da pedra" podiam escolher mas nem ligavam para as hortaliças. A maioria não se acostumou a consumi-las, erro comum no hábito alimentar brasileiro. Sem compradores o comércio não se estabelece. O produto vira lixo.

Tudo isso para dizer o já sabido - o produtor e o consumidor final estão sujeitos a uma carreada de ávidas mãos intermediárias. O jogo é agressivo. Se a ninguém interessa, vai fora. Já quem se interessa pelos produtos, lá no fim da linha, paga um preço distorcido, mais alto do que justo. 

Não me sinto inteligente pagando ao mercado um preço que, de tão abusivo, às vezes nem se encontra claramente exposto. Muito menos trazendo para casa um produto sambado, nem fresco da horta nem bem conservado  - isso para falar só de hortifruti. Sucumbo em último caso, muito último mesmo. 

Como fazer diferente? Não tenho terreno para plantar nem uma salsinha. No máximo crio meu hortelã em um vasinho - verdejante e cheiroso, muito precioso.

Sem vergonha de ser feliz, compro verduras e legumes em um sa-co-lão.  Encontro tudo o que há no mercado mais alguma coisa - maxixe, giló, carambola, jaboticaba, goiaba, pêssegos, ameixas, kiwis ...  Pimentão amarelo e vermelho? Quiabo? Vagem macarrão? Alface americana? R$ 1, 09 o quilo. 

A seção dos produtos mais caros também está presente no sacolão - uvas e peras a R$ 2, 30.  Brócolis e couve flor a  R$ 1,00 a unidade.

O preço não é a única vantagem - os produtos duram mais na minha geladeira porque não ficaram de um lado para o outro em câmaras nem sempre da temperatura adequada.  

Tenho para mim que os donos de sacolão pegam os produtos na "pedra"! rsrsr

Não são produtos orgânicos? Não sei... Como também não sei se no mercado muitos deles serão mesmo... Os orgânicos de verdade em geral são feios, mixurucas, com traço de insetos... Estes eu compro nas feiras de produtores orgânicos. O mais é no sacolão que compro mesmo. 

Eu me senti compelida a escrever este post porque comento sobre o sacolão com pessoas conhecidas mas vejo que não valorizam a informação. Não tenho certeza do que as move a comprar produtos menos bons por preço muito mais alto. Tenho a impressão que não compreenderia caso tentassem me explicar.

Já me disseram , sim, que os sacolões não são limpos. Alguns não são mesmo. Mas poucos mercados  podem se gabar de limpeza. Só para lembrar - num hipermercado da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, uma consumidora foi mordida de cobra ao remexer a gôndola dos repolhos uns anos atrás. Então, meu bem... 

Eu acho que cada um pode ajudar, no âmbito das suas atividades corriqueiras, a pressionar a inflação para baixo. Isso beneficia a sociedade como um todo. Donos e  donas de casa não sabem o poder que têm nas mãos. 

E só porque eu não resisto, vou comentar aqui o que vi uma mocinha comprar ontem no supermercado: meio alface. Meus olhos ficaram pregados na embalagem, no carrinho dela, atrás de mim na fila do caixa. Ela percebeu o meu olhar fixo. Como de D. Maroca já tenho uma boa porção, sorri e disse a ela amistosamente: o alface inteiro custa bem menos. Ela me respondeu que não conseguiria comer um alface inteiro, portanto, preferia não desperdiça-lo. Tá legal. Então, tá. Muito consciente... muito inteligente... Ecológica pra caramba!  Ela se sentiu uma intrépida ativista do GreenPeace frente a uma assassina de baleias.  

Fiz muita força para não rir nem subir no meu palanquinho portátil. Caí na rede... Aqui só lê quem quiser, quem não quiser não lê e eu fico mais tranquila, com a sensação de que alguma coisa, por mínima que seja, estou fazendo.

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