sábado, 12 de fevereiro de 2011

Eu Mãe e o Mercado de Trabalho 1

Antes de ter filhos, de pensar em ter filhos, eu trabalhava lado a lado com uma colega que fazia da maternidade um objetivo prioritário, idéia que eu absolutamente não compartilhava, não alcançava nem compreendia.

Ela era radical ao dizer que toda mulher normal queria ser mãe. Eu me achava totalmente normal e não desejava ser mãe de gente. Isso é assunto para outro post, ainda que a minha página já dê uma pista das minhas idéias a respeito.

Eu tinha 6 linhas de telefone tocando na minha mesa de trabalho - duas externas + 4 ramais internos. Era de enlouquecer. Passava muito tempo ao telefone. Ela tinha lá outras linhas e ramais. Inevitavel ouvirmos uma à outra quando estavamos livres de algum fone ao ouvido. Escutei várias vezes:

- Ela já tomou suco de laranja? Quantas colheres?
- Fez cocô?
- Já acordou?
- Dormiu que horas?
- Colocou as meias? Tirou as meias? Trocou fralda? Deu banho? Secou o cabelo? Colocou a roupa que eu deixei separada? Colou o laço? Não deixe ela comer o laço!!! ..............................

Fala sério! Que dor dessa mãe! Não poder acompanhar sua filha no dia-a dia, ouvi-la balbuciar, amparar seus primeiros passos,  vesti-la, passear com ela, testemunhar seu desenvolvimento... Encontrar o bebê dormindo ao chegar em casa, exausta, no fim do dia de trabalho. Acordar no dia seguinte e se vestir com um olho enquanto olha pra filha com o outro, faz bilu bilu, recomendações à babá, instruções à empregada... talvez um tchau pro marido, fecha a porta e sai ...

Isso só servia para me certificar que não havia como conciliar a atribulação de uma executiva com o prazer de ser mãe. O que dava era pra ser mãe (privada do prazer da maternidade) e executiva (sem a concentração e liberdade necessárias) - com sérios prejuízos para as duas condições. Assim eu pensava.

Engravidei num período em que não estava trabalhando (post anterior) e, grávida, ninguém me contrataria.

O bebê nasceu.

Babei total.

Ficava horas só olhando a neném dormir, admirando cada dobrinha, dedinho, pestaninha... O bebê crescia e eu continuava babando. Recebi algumas propostas e pressões de todos os lados - amigos, familiares, marido. Não consegui me separar da minha filha.


Quando ela fez 1 ano cedi a uma forte pressão e assumi um trabalho (que teria sido espetacular se eu estivesse emocionalmente preparada) com tempo certo para acabar.

Procurei uma creche. Visitei várias, descartei as que simulavam o mundo da fantasia e optei pela que me pareceu ter mais jeito de casa. Deixava o bebê esperneante, chorante e gritante e ia trabalhar, com o coração partido e o peito vazando. Voltava correndo do trabalho, rumo ao resgate do meu bebê na creche, entregue a terceiros, e da minha condição de mãe com bebê no próprio colo.

Não desejo para ninguém o que passei naquele tempo. O bebê teve tudo - diarréia, corrimento, começou a alergia respiratória...  Batia ponto no consultório do pediatra toda semana.  Em 3 meses de trabalho o maior espaço entre uma consulta médica e outra foi de 16 dias. Felizmente o pediatra atendia a partir das 6 da manhã e eu tinha tempo de voltar, deixar o bebê medicado (+ prescrição / medicamentos / recomendações / pedidos de cuidados e atenção especiais) na creche e ir para o trabalho.

E o pai? Bom... o pai ia trabalhar (sem qualquer drama de consciência nem acréscimo em responsabilidades).

Decidi que não poderia continuar naquela rotina. O trabalho a termo acabou e eu voltei feliz para os cuidados  em tempo integral com o meu bebê.

Resolvi esperar um tempo até voltar a trabalhar...

... continua

Um comentário:

  1. Hum, conheço bem essas histórias. Escrevi até um livro sobre isso :-)

    Abraço

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